Da vida nada se leva… discurso clássico, frase dita e repetida tantas vezes e por tantos que jamais poderíamos contar. E ela merece tanto o eco quanto o mérito, pois retrata uma grande verdade.
Refletir, porém, sobre o que da vida não se pode levar é apenas uma prova cabal de nosso egoísmo. É materialização de nossa imaturidade e pobre consciência. Pois basear nossas vidas em coisas que podemos obter e criar para nós mesmos é tão efêmero quanto a nossa própria passagem por esse mundo.
Talvez devêssemos nos perguntar o que na vida podemos deixar ao invés de lamentar o que não podemos levar.
Nosso apego as nossas coisas e o amor a nós mesmos nos cega e nos torna pequenos. Uma simples reflexão sobre este pensamento, do “levar da vida”, revela o quanto temos a aprender sobre as coisas que podem nos oferecer real felicidade e realização.
O amor próprio nunca foi tão pregado e difundido como nos dias atuais. E a ideia de amar a si mesmo nunca foi tão bem vista por tantos. Mas ela é uma ideia antiga, a qual costumeiramente recebia outro nome: egoísmo.
Aquele que vive apenas para si e constrói apenas para seu próprio proveito tem em suas quinquilharias sua própria recompensa. E jamais será feliz. Jamais será realizado. Pois há muito mais nobreza e satisfação no ato de servir do que no de ser servido.
O humilde encontra alegria na simplicidade. Mas o ambicioso jamais se satisfará. Vivendo sob o fino acabamento dos minuciosos e delicados detalhes de uma linda mansão, enfeitada com as mais belas obras de arte, feitas pelas mãos mais talentosas que a espécie humana pôde produzir, ainda encontrará insatisfação e seu prazer não poderá ser alcançado.
Tudo para o tolo é falho, pouco, insuficiente e nada lhe compraz.
Para os olhos do que tudo quer, o tudo lhe parece nada. Para as mãos do que tudo tem, tudo ainda é muito pouco. Para a boca do que de tudo come, absolutamente nada satisfaz o paladar. A alma do que tudo deseja é como um poço seco e sem fim. Nada pode preenche-lo. Nada pode completar um quebra-cabeças que não tem forma, cores nem sentido.
Há muito mais alegria na alma do pobre, mas de coração humilde, do que na vida de mil ricos ambiciosos que, tendo tudo, jamais alcançarão a felicidade. E o tudo que ele tem lhe parecerá como nada.
Assim também é o que ama apenas a si mesmo. Aquele para quem o único senhor é o próprio coração. Ansioso por agradar a própria alma, encontrará apenas amarguras. Há mais alegria naquele que serve com propósito do que naquele que vive para si mesmo e é servido por mil. Amar-se é muito bom, mas amar o outro é muito melhor.
Nenhuma árvore produz frutos para alimentar a si mesma. Mas ao dar frutos em abundância, que alimente a outros seres, tem a sorte de ver sua semente sendo levada para locais onde jamais poderia chegar sozinha. E é assim que sua descendência prosperará.
O que eu tenho feito para deixar na vida? E para quem tenho deixado?
Nada que o homem produz para si mesmo será lembrado. Mas o que faz para a posteridade inspira, dará frutos e beneficiará a vida de muitos. Grandes homens são lembrados pelo que fizeram a muitos e não pelo que acumularam para si mesmos. Aquele que partilha é mais próspero que aquele que amontoa. O que apoia recebe mais do que aquele que é apoiado e o que dá tem mais do que quem recebe.
Assim é a matemática da generosidade: o ato de dividir produz o de multiplicar e o que soma para si subtrai de todos!
Até aqui alguém poderia questionar: este louco quer me convencer a dar as coisas que tenho… será que ele faz o mesmo? Será que não busca coisas para si? Será que não “amontoa” em causa própria? Ora, aquele que não deseja, nada realiza. Logo, desejar é importante. E o que há de mal em buscar agradar também, mas não exclusivamente, a si mesmo? Se trabalho, sou merecedor dos frutos que o meu suor produziu. E não há nada errado em cuidar do meu próprio conforto. Mas é muito mais nobre, e produz mais resultados, o ato de compartilhar.
Por isso, devo saber também compartilhar. Devo entender o valor e o significado do ato de servir e não só do de ser servido. É importante conhecer o pouco e não só o muito. Valorizar o que é grande, mas também o que é pequeno. Grandes coisas, por vezes, tem menor valor que pequenas coisas. Assim como um pequeno pedaço de chumbo é mais pesado que um monte de algodão e assim como um grama de ouro vale mais que quilos de ferro. Não permita que a aparência das coisas o engane. Pois, o valor, o peso e o volume das coisas nem sempre possui alguma ligação.
Construir para os demais, fazer para o próximo, amar aos outros e deixar para a vida! Estes são princípios com muito mais significado e com mais resultados para a alma. Aquele que vive para os outros não será frustrado em seu propósito. O que serve sempre terá mais valor que o inútil e egoísta que somente é servido. Quem abre mão e dá sempre terá mais para doar e o que pede sempre precisará pedir mais.
O pedinte nunca prospera. Mas o generoso, sempre! Assim como o que retém acumula preocupações, mas o que compartilha encontra neste ato plena felicidade.
A alma do homem tem necessidades que o corpo não pode entender. A lógica possui armadilhas e paradoxos que somente um espírito voluntário pode interpretar. Há muito mais prazer no ato de servir, pois o útil tem grande relevância e propósito. Ele encontrará real satisfação durante e ao final de sua vida. Mas o egoísta viverá sozinho com sua mente frustrada e seu coração vazio.
O que eu deixarei para a vida?
A Busca pela estereótipo, é uma insistência enganosa humana em alcançar o ápice de sua realização pessoal naquilo que se pode tocar, mas, que é tão passageiro quanto a própria vida… esquece de compartilhar riquezas que só estão contidas no ato de Amar, e de servir voluntariamente… E é este legado ser deixado como herança… Herança esta que mesmo estando ainda o seu testador Vivo, é capaz de enriquecer a sua própria vida, como a de futuras gerações…
É verdade meu amigo…
Esteriótipo hoje é tudo. O ego é um deus.
Obrigado pelo comentário.
Abraço enorme pra ti!
Parabéns pelo texto, como leitor do Livro dos Provérbios admiro muito a forma e conteúdo. Abraço.
Obrigado meu amigo!
Realmente, tem sim influência, também sou fã de Provérbios.
Grande abraço!