É de amor em amor, que sem amor, minh’alma vaga.
Aqui e ali, sem direção… rancor e mágoa.
Dores e amores, sempre rimam. No fim, tudo amarga.
Cores e flores também rimam. Mas nunca na estrofe que acaba.
Ao encerrar o poema, há sempre dor e solidão.
E as flores da vida… espere aí, ainda não.
Quando enfim, feliz para sempre, dá-se com a cara no chão.
Nem feliz, nem sempre… meu coração roubou o ladrão.
Então trevas, lágrimas, depressão e saudade.
O medo, a dor e a enorme falta de vontade.
Tristeza, tentativas frustradas… sofrer que invade.
Sonhos rotos e insossos, o silêncio… tudo abate.
Mas eis que vejo no horizonte o grande mar…
Ele parece de rosas… vou me aproximar.
Cheiros suaves e gostosos convidam-me à apaixonar.
Quero este cheiro, este gosto… eles hão de me salvar!
Daí sinto o fragmento que pinica meu coração por dentro.
É fragmento dele mesmo, do velho, do remelento.
Daquele que antes vivia ali, mas que agora em fragmentos,
Incomoda o novo, outro que nasce e quer laçar-me ao vento.
É assim quando nasce o novo, sempre do resto morto.
A vida se recicla em um ciclo violento e louco.
Um dia seu corpo alimentará um ser faminto, um outro.
Será você morto e vivo o novo.
Referências fúnebres à parte, falo do nascer sobre escombros.
Tristeza e felicidade são irmãs, andam sempre ombro a ombro.
A realidade não tem sentimentos, sempre nos causa assombro.
As voltas que o mundo dá nos causa espanto, nos deixa atônitos.
Aquela pontada, de dentro para fora, lembra-me de onde vim.
O chão pedregoso o qual beijei, aflito, onde vi meu próprio fim.
Aquele gosto de poeira, sufocante, todo desgosto oferecido a mim.
Aquele cálice amargo tomei… até que de tudo me fartei, enfim!
E agora minh’alma vaga, sedada, incerta, incauta.
Aquela mesma que afaga a adaga, mas cede à calma.
A que nada manifesta, senão a pobreza da tola fala.
A fala distópica, camuflada, que no fundo cala.
Então se te declaro algo, o que não posso conter.
Entenda-me, meu espírito é limitado, fala do que vive a temer.
Pois quem não teme, sereno cala, só de paz pode viver?
Noite e dia… pleno, forte, jamais se abala, nada o pode deter!
Vaga minh’alma, vai e vaga!
É teu direito à voz e à fala!
É tua a vida que hoje desaba!
É teu o pranto, a dor e a mágoa!
E quem te julgará?
Quem te repreenderá?
Quem te ajudará?
Ou quem te entenderá?
Cada um que carregue suas vis desilusões!
De quem são os ombros cujo fardo causam profundas lesões?
A quem cabe a dor e o desprazer de suas muitas preocupações?
E a quem incomoda os resultados de tuas ações?
É todo teu o direito à teu lamento, se assim desejares!
E teu também o sorriso que por ventura ousares.
Nem teu choro ou teu sorriso é da conta de outros olhares.
Tua felicidade, tristeza, alegria ou vaidade são teus para levares!
É aqui que digo a qualquer admirador,
Se tens algo comigo, nunca o foste com minha dor.
Pois meus são poucos amigos e não lembro sequer teu odor.
Quando tivera necessidade, não senti em ti amor.
Há no mundo tanta maldade, egoísmo e frieza.
Hoje sinto falta da verdade e da benquista franqueza.
Um dia tive um sonho, pensei viver num mundo de beleza.
Mas ele era falso, eu não o via com clareza.
É aqui que então encerro este lamento de amor eterno.
Falando do que vaga, de vaga em vaga, em meu coração terno.
Quando sofro minhas mágoas bem pareço estar no inferno!
Mas então junto a cabeça, ergo forças e enfrento o fogo do inverno!