
O ser humano sonha desde que se torna consciente sobre si e sobre o mundo. Nós conhecemos as coisas que existem e as desejamos. Esse comportamento nos acompanha até o fim de nossas vidas, nunca deixamos de desejar ou de sonhar.
Os sonhos e desejos, contudo, variam entre uma pessoa e outra. Enquanto uns desejam dinheiro, outros uma vida simples. Enquanto uns fama, outros anonimato e paz. Enquanto uns aventura, outros sossego. Isso depende muito do que se têm e ainda mais do que nunca se teve.
O sentimento de posse é muito forte no ser humano. As pessoas querem possuir o que não têm e ser o que não são, ou o que pensam que não podem ser. Elas desejam o que está distante delas e, em geral, menosprezam o que possuem. Isso, obviamente, não é saudável – porém, é compreensível. É muito comum ver pessoas desejando coisas e, quando as alcançam, deixam de dar valor a elas. Começam simplesmente a desejar outras coisas e perdem o interesse pelas anteriores.
Desejar é como sonhar. É querer muito o que não se têm. É o fruto de uma ambição. É um sentimento que torna necessário o que é, muitas vezes, completamente dispensável. Outras tantas vezes, até nocivo.
Como diz a Bíblia, onde está o seu tesouro, aí está o seu coração. O foco das pessoas costuma estar voltado para o que elas desejam e é nisto que põem toda sua energia. Porém, lembre-se da velha frase: cuidado com o que você deseja!
O desejo de muitos é a sua destruição. Pessoas que não refletem e não criticam os próprios desejos podem tornar-se escravizadas por eles. O desejo entorpece os sentidos, obscurece a visão e afasta o homem da razão.
Quando motivadas por um forte desejo, as pessoas perdem parâmetros, ultrapassam limites importantes e até negam os próprios princípios. Desejos são traiçoeiros e adoecem o ser. É preciso ter cautela e senso crítico para avaliar se o objeto de desejo é algo edificante ou destrutivo. Uma boa pergunta a se fazer é: o que farei depois que alcançar isso que eu tanto quero?
Muitas vezes o desejo de um homem é sua maldição. Mas ele a buscará impetuosamente, pois perdeu a capacidade de criticar os próprios atos e questionar a própria visão de mundo, distorcida pelo sentimento que transforma o torpe em belo, o vil em virtuoso e o desprezível em adorável.
A verdade é que, em muitas situações, o melhor para uma pessoa é que ela jamais alcance aquilo que almeja. Embora reste um sentimento de frustração, isso ainda será melhor que a completa ruína. Tenho sentido a tristeza de assistir muitas pessoas alcançando o que desejam e, em consequência, destruindo suas próprias vidas. Em pouco tempo resta apenas uma terra arrasada e o sentimento doloroso da derrota amarga.
É importante sonhar, eu mesmo já realizei muitos sonhos. Entretanto, mais importante que sonhar, é escolher os sonhos certos, aqueles que edificam. O melhor guerreiro não é o que sobrevive a qualquer batalha, mas sim os que escolhem as batalhas certas para travar. Se o inimigo é mais forte, o guerreiro sábio traça estratégias ou adia o confronto até haver condições adequadas para enfrentar o inimigo. Lançar-se como um kamikaze contra qualquer objetivo só produz destruição. Precisamos ser mais inteligentes do que isso.
Pessoas impulsivas e ansiosas tendem a se chocar contra a parede repetitivamente até não restar mais nenhuma força para se levantar. Elas não planejam nem amadurecem ideias, apenas se lançam, como um inseto atraído pela lâmpada, o qual se choca contra ela até perder as asas e se esborrachar no chão.
Paciência, perseverança e dedicação são fundamentais para se alcançar resultados satisfatórios. É preciso sobriedade e sabedoria para viver. Correr atrás de sonhos e desejos o tempo todo é um comportamento bastante primitivo e inconsequente. Os resultados tendem a ser péssimos.
Por quê deixamos que nos convencessem de que precisamos ostentar coisas que não temos ou mostrar o que não somos? Qual é o problema em ser mais sensato e buscar aquilo que o dinheiro não pode comprar, como sabedoria, ética, maturidade e paciência?
Deixamos que nos convencessem que coisas irrelevantes são muito importantes. Parece que cultivamos em nós mesmos a necessidade ridícula de nos exibirmos e ostentarmos o tempo todo, como se fôssemos pavões, mostrando nossa enorme cauda colorida, apenas para parecer maiores e mais fortes quando, na verdade, somos tão frágeis que sequer suportamos um simples “não” da vida. Será que isso vale a pena? O que ganhamos com isso? Só consigo ver como frutos desse comportamento muitas patologias psicológicas e sociais, tais como ansiedade, frustração, depressão, solidão, competitividade excessiva, sentimento de rejeição e dificuldade de convívio social.
Quando foi que passamos a acreditar que precisamos mostrar algo para os outros ou para o mundo? Viagens, dinheiro, carros de luxo, bens materiais em geral, muitos amigos, popularidade, promiscuidade, substâncias ilícitas, vida desregrada… será que precisamos de alguma dessas coisas? Será que é possível encontrar paz e vida plena em alguma delas?
O que você deseja? O que faz seus olhos brilharem? Você gostaria de ter muito dinheiro para mostrar para todo mundo que venceu na vida? Ninguém realmente se importa com isso, não passa de uma grande bobagem. Gostaria de ter muitas mulheres, muitos homens ou muito de ambos? Ninguém realmente se importa com quem ou quantos você dorme. Gostaria de ter jóias, roupas caras e ouro pelo corpo todo? Na realidade isso nos faz parecer muito cafona, arrogantes e possuidores de um grande mal gosto. Gostaria de ter fama e ser assediado? Isso tira a paz de qualquer um, logo torna-se insuportável! Afinal, já se perguntou onde está o seu tesouro e se ele realmente vale a pena?
Muitos conseguiram essas coisas e acabaram descobrindo que elas era sua desgraça. Já parou para pensar como é a vida de pessoas muito famosas, sobre o quanto elas são assediadas, por exemplo? Já pensou se dormem tranquilos os muito ricos ou se passam noites preocupados em como manter sua fortuna? Sabemos que a grama do vizinho sempre parece mais verde e o quanto a faixa o a fila do lado sempre anda mais rápido. Mas quando nos mudamos pra casa do vizinho ou trocamos de faixa ou fila, as coisas sempre ficam muito diferentes do que pareciam, não é verdade?
No final, se procurar saber, você vai descobrir que a gratidão é a melhor maneira de se encontrar satisfação na vida. Vai compreender que focar nos que te amam e esquecer os outros multiplicará seu tempo e sua felicidade. Vai perceber que nenhuma posse é suficiente para satisfazer o desejo infinito de “ter”. Vai sentir o quanto uma vida simples e anônima pode trazer a verdadeira paz interior. Vai se satisfazer com o amor que só uma família sólida e unida pode dar.
Não recebemos da vida muito do que desejamos porque o nosso propósito nem sempre é bom e sincero. Pessoas dedicadas geralmente alcançam grandes vitórias. Se fazem por amor, o retorno é certo. Porém, muitos são os que buscam pelos propósitos errados, por isso não alcançam ou, se alcançam, é para sua perdição. Ter dinheiro é bom, mas se você o quer para ostentar ele vai te destruir. Ter fama pode ser bom, mas se você a quer para ser adorado ela tornará sua vida um inferno.
Nossos motivos moldam nosso comportamento e definem nossas escolhas. Pelo caminho, vamos deixando rastros que atraem inimigos, tanto externos quanto interiores. Parece realmente que a lei da colheita é implacável, aqui se colhe o que se planta. Quem planta vento, colhe tempestade. Quem planta amor, colhe paz e bem aventurança.
Reflita sobre seus desejos e sobre seus motivos. Enquanto a colheita não dá frutos, ainda há tempo para um replantio. Depois que chegam os frutos, é tudo que você terá para comer e pode ser que os frutos sejam bastante amargos.







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