Fina fúria flui dos lábios revoltos em teu rosto enrugado.
Diz-se certa, ao certo, tudo certo em teus relatos.
Aquela cor que rubra de rubro tua face envolta em rubros lábios.
E meus ouvidos, surdos, ouvem apenas as batidas de teu coração.
De fato nada importa-me, se tens ou não razão.
Quisera eu que da quimera, em mero afago, me estendesse a mão.
Razão ou não razão, não enche-me a alma, senão de aflição.
Abraça-me e esqueça-te das fúrias e tormentos de teu coração.
Se ao menos tua alma alcançasse o que alcançam meus sonhos,
Sonharias com meu sono e meu anseio em ser teu – etéreo!
Se de fato tuas mágoas, tolas, dotadas fossem de razão,
Não seria o teu retrato o de desejos, raiva e aflição.
Tuas falas que vá-se às favas, afaga-me agora!
Apaga tuas mágoas desse coração tão duro quanto frias rochas.
E encosta teu rosto no peito que te quer tanto bem.
Se bem que nele mete as facas e adagas que tens.
Se pudesse e quisesse conter tua fina fúria,
Se ousasse desenrugar teu rosto revolto,
Se fosse assim tão vil, para desejar encobrir toda essa tua beleza…
Não te amaria como sempre, e tanto, que tanto te quero de hoje até o além.
Darei licença à razoabilidade de tanta razão que me deprime,
Falarei então da tolice e do desejo que meu canto oprime.
Se tivesse uma gota, ao menos, de sensibilidade…
Sensibilizar-te-ias quando ouvisse meu canto, mudo e contido.
Contigo, contido meu canto… resta o pranto.
E nele que encanto ou beleza haverá?
Se vaga na vida minh’alma vazia, a culpa é toda tua!
Beba do cálice da amargura, minha e tua – almas nuas.
Fina flor de finos lábios, em teu seio repouso farto.
Quisera nesse seio não ansiasse ansioso coração.
Ele encobre tua luz, tua beleza e emudece a mais linda canção.
Teu amor é tua dor, quisera fosse a redenção.
Saudades de tua intensidade e fúria.
Falta cruel sinto de tuas muitas lamúrias.
Chatas, rancorosas… mas meus ouvidos, surdos,
Ouvia com encanto somente as batidas de teu coração.