Difícil ficar de pé quando o céu despenca e o mundo desaba. Difícil manter a fé.
Nas horas sombrias, que a vida reserva a todos nós, é comum nos vermos sustentados por um fino fio de esperança. Reavaliamos conceitos, valores e crenças. Questionamos até as certezas mais antigas. Remoemos cada segundo dos últimos acontecimentos e até eventos que já fazem um bom tempo.
A procura por respostas é inevitável. A busca por culpados é instintiva. Como se algumas dessas coisas pudessem nos confortar, nos entregamos a elas e seus devaneios inócuos… sem sentido.
Quisera o decepcionado acordar de seu tormento e encontrar sua vida de volta, tal como era. Quisera o abatido despertar de repente e encontrar todas as coisas que conhecia exatamente no lugar onde se encontravam.
Porém, é dura a realidade de que o vento leva, mas não trás de volta. A maré que sobe e desce jamais põe a areia de volta no mesmo lugar. O sol que aquece e evapora a água e as nuvens, que as atiram de volta a terra, jamais tornam cada gota a posição onde estavam.
A transformação é parte essencial da vida. Talvez uma seja alma e outra corpo. Como partes indistinguíveis e inseparáveis fazem de tudo “o todo” louco que são. Trazendo também da loucura o próprio sentido de tudo. Criando o ser e o querer, do nada à tona de todas as coisas.
Difícil parmanecer como se é quando se abalam a terra, o fogo e a água.
Não há elemento que resista às mudanças, a incerteza é a mais certa das coisas da vida! Escondemos-nos por de trás do véu da “estabilidade” como se algo real isso fosse e não mera vertigem, fruto de um desejo, anseio… causalidade.
Inventamos tudo aquilo de que precisamos, ainda que apenas no mundo das ideias e da imaginação. Fazemos planos, como se pudéssemos controlar a realidade e o cenário que nos envolve. Tolice e vaidade… é o resumo de nossa pobre esperança em busca de algo abstrato como a estabilidade.
O amanhã vira? Talvez para uns… para outros não. A chuva cairá? Sim aqui, não acolá. O céu resplandecerá? Meu futuro há de brilhar? Minha semente crescerá? O que sucederá ao velho e ao novo? Talvez o novo logo padeça e o velho lamente seus incontáveis dias sobre a terra em seu imenso cansaço.
Quando tudo parece infinito e as possibilidades nos atormentam com suas incontáveis variações, estamos certos de, pela primeira vez, contemplarmos a verdade. Até então vislumbrados estávamos por nossas muitas mentiras e loucas imaginações.
Difícil ficar parado quando o vento sopra, a onda bate e a terra treme.
Se nem mesmo a natureza permanece onde está, se nem mesmo os continentes estiveram sempre no mesmo lugar… por que ficaria eu estático em algum lugar entre meu pé direito e o esquerdo?
Movimento é também mais um nome para vida. Até aqui, em todo universo, nada houve e jamais haverá em estado de real repouso. Tudo que há certamente se movimenta. E essa é mais uma manifestação da beleza que há em toda a existência.
Em meio ao mar revolto, sacudido por muitas ondas, arremessados violentamente para todos os lados, conseguimos ver que a vida se move e também quer nos mover. Mais um passo adiante, no despertar de nossos pobres sentidos, conseguimos perceber que não é a força das ondas, mas sua teimosa resistência a elas que o leva a sofrer.
Aceitar o destino, seguir em direção a única verdade, chamada desconhecido, ousar coisas novas e aceitar as intempéries da vida como o motor de toda mudança é o caminho para o crescimento e a superação de todos os males.
Ao sentir-se coagido, lembre-se que a vida o convida a lutar e a superar. Quando o vento sopra leva sementes, arrasta obstáculos, limpa o caminho e cria novas oportunidades. Quando as ondas batem chacoalham os mares e mostram a soberania, a beleza e a força que tem… para inspirar os que contemplam e convidá-los ao desafio! Quando a terra treme trás a tona coisas ocultas em suas profundezas e derruba aquelas que estavam velhas e decadentes.
Difícil temer quando se entende que a razão do vencer está no ato de querer e na ousadia de realizar.
Mas ainda que temas, ouse e aprendas! Nada há de certo, além do gesto do mundo de mudar sempre tudo e renovar a cada dia o próprio dia! Não olhes para trás, lá não há esperança… sintas contudo os ventos da mudança! Somente olhando para frente sentirás este vento em teu rosto, somente enchendo os pulmões receberás o frescor e o novo!
Se um dia tua alma clama, por ver com pavor toda sorte de mudança, diga a ela que se acalme, diga que tudo que a invade é corriqueiro e passageiro. Diga que o anseio logo passa e que o prazer da realização será sempre maior que o desconforto da espera! Diga a sua alma, que por mais que a vida não pareça bela, o amanhã lhe dirá o quanto foi bom esperar!
Se em teu peito bate agora um coração tristonho e desolado, saiba que a vida é surprendente e te fará um ser alado! Para que voes além de tuas mágoas e encontre refúgio em calmas e distantes águas. Teu coração é ansioso, como é o de todo homem… ignore-o e então serás um novo ser!
Da guerra à paz a vitória é tudo o que o soldado leva. Torna-te agora maior que a batalha, pega em tuas mãos, com força, as tuas armas. Olha com raiva, a frente de combate. E diga com a força que há em teu coração: Pode o céu despencar, o mundo desabar, o vento soprar, a onda bater, a terra tremer e o combate aterrorizar… eu os enfrentarei a todos! Sonharei quando faltarem razões, ousarei quando faltarem opções, gritarei quando faltarem palavras, reinventar-me-ei quando faltar-me certezas e voarei quando faltar-me o chão!