A alma do homem nasce nua. Ele olha para o céu e contempla a lua, solitária como ele só. Então deseja matar a sua “nudez solidão” vestindo-se com uma outra alma, também nua, só como a lua, que então cobrirá – alma com alma – as nudezes das duas.
Uma alma que a outra completa é uma alma plena. As duas tornam-se uma só alma, maior e vestida, cuja nudez não se pode observar. Almas que se completam também se equilibram. Elas dançam felizes num compasso perfeito e ritmado. Lindo!
As benesses e também os desafios da vida não as pode separar. Sua dança não pára nem jamais perde o compasso. Quando a música da vida se atrapalha ou desafina, quando o chão do salão ou o barro da estrada ficam esburacados, ainda assim as duas almas dançam no mesmo ritmo e compasso. Parceiros quase alados – parecem nem tocar o chão!
Uma vez coberta a nudez da alma, nada jamais a envergonhará. Suas intimidades estão protegidas e, em parceria, uma à outra sempre guardará. Olhos curiosos não alcançarão nem embaraçarão seus passos. As duas almas hão de se apoiar.
Elas não se abalam pelos ventos ou tempestades e nem pelo estado do caminho por onde não caminham, mas flutuam, desfilam… seus belos passos, na medida do compasso, são certos e precisos. Em perfeita união seguem seu rumo, olhando para frente e nunca para o chão.
É difícil, contudo, que tais almas se encontrem. Às vezes procuram-se uma vida inteira. Outras vezes encontram-se, mas não se reconhecem. Outras tantas se vêem, mas se rejeitam. Então perambulam ambas nuas e tristes pelo caminho da vida.
Há também a alma tola, que abandona sua parceira para seguirem, as duas, saudosas e doentes. Lembram-se dos passos, ainda escutam a música… relembram com dor o compassos e o ritmo equilibrado no qual seguiam. Almas que se completam devem seguir até o fim da vida.
Almas inteligentes são aquelas que, atentas, logo se identificam e se reconhecem. Unem-se e dançam pela vida alegres. Até que um dia a estrada acabe neste mundo para continuar no além, onde ainda juntas perseverarão para sempre. Amém!
Se tiveres a chance não desperdices. Encontre a alma que cobrirá a nudez da tua. Almas desnudas sentem frio e muita solidão. Ainda que dancem, rodopiam tristes pelo salão. Querem achar completude em si mesmas quando a estrada foi feita para dois viajantes se apoiarem. O egoísmo da alma só lhe trará desilusão.
Ande coberto no frio, proteja-se contra o ladrão. Esquente as mãos no caminho com aquele que lhe dá a mão. Siga firme o destino, sem temer a solidão. Almas que dançam sozinhas não terão satisfação. Cubra a nudez da tua alma como se cobrem dois irmãos.